Considerar a vida, as pessoas, os negócios sustentáveis e os valores para o mundo é uma realidade das empresas de hoje pra não perderem o futuro de vista

 

A todo momento percebemos alguma empresa conversando conosco. A comunicação chega a todo instante, num turbilhão de informações infindáveis, propagandas e avisos de que você precisa adquirir o produto tal para ser mais feliz, mais saudável ou mais interessante.

A quantidade de oferta se tornou tão grande que deu aparente fim à escassez e elevou o poder de escolha das pessoas, na mesma proporção em que as relegou para a condição de “consumidores” ou “usuários”, esquecendo de suas individualidades enquanto seres humanos. 

A partir de então, olhar para as pessoas como seres humanos dotados de valores passou a ser a ferramenta para a ressignificação de marcas, a formulação de serviços e o desenvolvimento de produtos. Foi nesse momento que nós, designers, saímos do lugar comum e fomos conquistar o mundo, criando o conhecido Human Centered Design (HCD), ou, na língua pátria, Design Centrado no Humano.

 

O Human Centered Design nada mais é que uma metodologia de design cuja premissa é a de que, para projetarmos soluções verdadeiramente aplicáveis às pessoas, devemos desenvolver uma compreensão além do que pensamos e sentimos, praticando a empatia e voltando as soluções para as verdadeiras necessidades. 

Com o passar do tempo e dos resultados, o mundo percebeu que o processo de design funciona. E funciona mesmo. Muitas mudanças incríveis vieram daí, desde pequenos cuidados até a forma de fazer compras. A maneira com que o design opera é totalmente diferente de algumas décadas atrás. As experiências com streamings, os smartphones, os bancos digitais e os e-commerces foram algumas dessas mudanças. 

No entanto, com o passar dos anos, percebemos que havíamos contribuído para a criação de um Frankenstein, um amontoado de lixo físico e digital. O Design Thinking e suas vertentes foram sequestradas pelo mundo dos negócios com o único propósito de vender mais para mais pessoas, sob o pretexto de proporcionar novas experiências e serviços. Desta forma, tivemos que nos afastar do Design Centrado no Humano para conceber o Design Centrado na Vida (Life Centered Design - LCD). 

Essa “migração” necessária trouxe o contexto do homem enquanto ser vivo, que habita um mundo e precisa conservá-lo para se manter vivo. O foco saiu exclusivamente do ser humano e se ampliou para outras esferas, como a digital e a biológica. Passamos a entender que os desafios eram muito mais complexos, pois incluíam questões como o meio ambiente, as divergências raciais e a inovação tecnológica. Isso nos orientou a combinar o pensamento científico e criativo  em uma abordagem estratégica  centrada na vida. 

 

O advento da tecnologia provocou essa volta para a visão humanística, pois direcionou a solução para a usabilidade e interatividade humana para as pessoas adequadas. A necessidade premente passou a ser de determinada pessoa num contexto maior.

O processo se inicia com o projeto de uma forte proposta de valor, que começa com entender a quem você está servindo e como sua empresa pode atender às necessidades daqueles. Planilhas sozinhas não lhe dirão como fazer isso e, para aprender sobre as reais necessidades dos seus clientes, você terá de aprender a mergulhar em seu mundo, entender suas motivações e sintonizar o que traz alegria, frustração e realização, levando em conta todo o ecossistema que o cerca.

Nós, designers, costumamos usar experiências análogas para chegarmos o mais perto possível das lutas cotidianas das pessoas. Observamos muito, fazemos entrevistas qualitativas, prototipamos e experimentamos. Além disso, não temos medo de usar, abusar e criar ferramentas de trabalho. 

Tudo se inicia com perguntas e a primordial é: que valor o meu negócio agrega à vida das pessoas? Os melhores negócios estão sendo construídos com base no valor ao cliente e é por isso que a proposta virá dos insights aprendidos sobre as necessidades de todos, que guiará para a solução. Pensar em necessidades funcionais (por exemplo, algo fácil de usar, algo que economiza dinheiro) e emocionais (por exemplo, me faz sentir bem) são de grande valia. 

Pensar em como criar um novo contato com clientes em momentos diferentes durante seu dia e em como você pode usar seu canal de vendas para fornecer outros produtos ou serviços aos clientes, inovou as vias de entrega. As empresas passaram a formar canais mais diretos com os clientes para fortalecer sua presença e marca e comunicar os valores da empresa, ganhando mais controle sobre a experiência deles.

Colaborar com outras empresas que atendem clientes semelhantes (ou fornecer acesso a novos) se tornou uma maneira de trabalhar em conjunto em uma oferta completamente nova, que projeta as empresas para melhores resultados e atrai novos públicos. 

 

Enfim, podemos dizer que pessoas com pensamento de design são pensadoras de sistemas, isto é, são pessoas capazes de desenhar e criar níveis de necessidades, tendo a capacidade de entender o ecossistema e encararem estruturalmente as mudanças e desafios que encontrarem. São pessoas orientadas ao futuro, ou seja, capazes de visualizar e prototipar o ambiente ou universo que precisa ser criado e impulsionam mudanças em comportamentos e culturas, se for necessário.

Pensar já não é a mesma coisa desde o avanço do design. Aprender a pensar como um designer para alcançar os melhores resultados é o que 10 entre 10 pessoas inovadoras fazem. Considerar a vida, as pessoas, os negócios sustentáveis e os valores para o mundo já é uma realidade e, se você ainda está preso dentro de sua cabeça solitária, é porque não pensa. Ou pensa que pensa.